Ela lia Kafka,
Eu lia suas curvas…
Ela absorta em palavras,
Eu em sua geometria.
Em um segundo
Éramos o mesmo,
um mesmo…
E eu sorvia Kafka
na plenitude
de sua geometria…
=Dom
Ela lia Kafka,
Eu lia suas curvas…
Ela absorta em palavras,
Eu em sua geometria.
Em um segundo
Éramos o mesmo,
um mesmo…
E eu sorvia Kafka
na plenitude
de sua geometria…
=Dom
No picadeiro surge “eu”,
teu palhaço lisonjeiro.
Fazes de mim faxineiro,
limpando a sórdida sujeira.
Se fosses platéia,
Em mim lerias arte.
Não és platéia, és morte.
Carrasco de minha alegria.
(…)
Antes me fizésseis drama.
Ao menos serias coerente.
=Dom
Calabouços
Claustrofóbicos,
Teus olhos
Masmorras
Onde das horas
Me perco
Círculos negros
Vagando no espaço,
No tempo
De quem não fui
Calabouços
De minha sorte,
Teus olhos,
Minha sentença.
=Dom
“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e
poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu.
Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da
dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos
de ressaca? Vá, de ressaca.”
Assis, Machado de. Dom Casmurro
Queria mesmo
era desenhar-te
nua em um poema
vestido em gala…
=Dom
Leito, o deleite
de ser poesia em corpo.
Corpo, o espasmo
em ser verso sentido.
Sentido, o cheiro
do pêlo que é roupa.
Vestido, a pele
que é rosa e ferrão.
Tu, morena,
és verso escrito
sem papel ou caneta.
E eu escritor
sem verbos, adjetivos
ou conjunções…
=Dom
Por entre a turba,
enlouquecido, buscava
os olhos de minha morte.
Em mim, calado,
Vociferavam idéias infames.
Me faltava calma,
Me sobrava culpa.
O vil “modus operandi”,
sempre.
Ali, a metros de mim,
Meu destino…
Tocam, ecoam…
É chegada a hora,
“Mea culpa”,
Me entrego…
De minha sorte, o tempo
De minha morte, os olhos.
=Dom
Não tinha estrelas, o céu.
Jazia numa escuridão estranha,
Quase achei que fosse noite.
Não era noite, apenas faltava-me o sol.
Embrenhara-se por entre as nuvens e sumira
Saudades do desgraçado.
Mas de todo, a maior dor não foi sua falta.
Latejava-me a alma, de fato
o escuro que ainda estava por vir.
=Dom
Eu que me fui abandono,
esperança e desespero.
Da pele marcada,
Forjei o duplo sentido.
Por ser, não sendo,
Armado e mortal,
Em tempos de paz,
Feri minha carne
Com a rubra loucura
De ser ironia
Poética e viva.
Da língua afiada,
espada vermelha forjei.
Poema sangrento
De corpo, pele e paixão.
=Dom
No paradoxo existencial
De teus olhos
Contemplo meus dias.
Fenda louca no espaço-tempo.
Espelho taciturno que
Reflete quem não sou.
Passado e futuro
Coexistindo em uma
Perturbadora harmonia.
Nesta óptica, perco a razão!
Já não há tempo.
Não há espaço.
Teus olhos,
Em um instante, em mim,
Mais que uma vida!
=Dom
Alguma antítese
era, perdida.
Trazia na pele
A cor da noite
E nos olhos o meio dia.
Nunca soubera que,
De quando em vez,
Emprestava-me o corpo
Para ser inspiração.
E inspirava (…)
Tornava-me lições de poesia.
A folha, o livro digital,
Supunham-me poeta.
Mal sabiam que os versos voavam.
Não era poeta,
Eu não criava.
Nas linhas lógicas,
Eu transcrevia.
Era, a antítese,
A fonte de todas
As palavras.
=Dom