Teu riso farol
Meu guia em deriva
Lábios bússola
Norte no breu
Dentes constelação
Âncora do tempo
Língua Porto
Destino de salvação
=Dom
Teu riso farol
Meu guia em deriva
Lábios bússola
Norte no breu
Dentes constelação
Âncora do tempo
Língua Porto
Destino de salvação
=Dom
Se o anel não fosse de vidro
Se o amor não fosse tão pouco
Quem sabe essa ciranda
Não precisasse cirandar
Mas não é minha essa rua
Mas nem é grande esse amor
Quem sabe essa ciranda
Não precisasse cirandar
Mas ciranda!
O anel se quebra,
O amor se acaba
E a rua continua não sendo minha
=Dom
No jantar de meus trinta anos
Comi com assombro a tristeza
Que me serviste num prato
Sorvi cada gota de tua incerteza
E limpei minha boca nas mangas
Duma razão rota e desafetada
No jantar de meus trinta anos
Não tive fome
Não tive sede
Nem tive nada
Comi, bebi, chorei
E depois fui dormir
perguntando de que valeram
os muitos versos que compus
Nos meus trinta anos jantei sozinho
E não havia ninguém para lavar os garfos
ou raspar a gordura das panelas
Nos meus trinta anos jantei sozinho
E nem todos os galos do mundo
Me fariam acreditar no amanhecer
No jantar de meus trinta anos
Havia os poemas e era tudo o que havia
(…)
Era tudo o que havia
No jantar de meus trinta anos
=Dom
____
3h55, Ribeirão Preto, no jantar de meus 30 anos
Você é tudo a quilo que me faltava…
=Dom
Versifico-te por completo.
Como artista inquieto,
Te construo com palavras.
=Dom
Não quero que me imputes
crime por ter esperança.
Pois se a tenho, a tenho pra mim.
E não peço que a compartilhes
ou que dela sobrevivas.
Mesmo porque, a esperança
é um alimento escasso
e só pode alimentar
um homem por cada vez.
Suplico, no entanto, que
não afastes de mim, teus olhos.
Pois neles me apego qual
desgraçado à sua certeza.
Nisso não há crime,
nem agouro ou maledicência.
Esperança, minha senhora,
não é crime. Crime é não possuí-la.
E desse mal, juro, não sofro!
Ademais, são teus olhos, em mim,
a própria “esperança dos desgraçados”
E se não os tivesse, seria eu, apenas
um desgraçado sem esperanças.
Não tivesse esperanças, senhora,
tanto pior seria pra ti.
Afinal, quem daí cantaria teus olhos com
tamanha paixão, respeito e temeridade…
=Dom
Deixe que o tempo passe, menina.
O tempo é uma régua de dias.
Como são poucos seus dias, menina.
O tempo é maior que você.
Não olhe o mundo de cima, menina,
Que o mundo é um juiz que não dorme.
O mundo é o carrasco da vida, menina.
O mundo é maior que você.
Mas quem é mesmo você, menina!?
Um broto, um canto, um copo, um tear?
Quem é mesmo você, menina?
Ontem nasceu e hoje é o sol.
Mas amanhã, menina,
Amanhã será o esquecimento.
=Dom
(Poema para se ler nas nuvens, #1507)
Como artista inquieto,
reconstruo-te nas palavras.
=Dom
Não pensei que de tão eloqüente,
“de repente”, ficasse mudo.
Devaneios…
Num instante passo de artista
a mero infante que desconhece
nas frases o verbo ou o sujeito.
Os versos se diversificam.
As idéias concretas liquidificam a si.
E eu me derramo como liquido ébrio
no tapete da sala de tua vida.
=Dom
Da tua boca
a marca, em pele.
Vislumbres de um
futuro que conservo
em saudade.
Nas convexas
de tua carne
rabisco poesia.
Côncavas
curvas onde
convoco meus
cromáticos
sentidos.
Nada é relativo e
em nossas leis,
somos os dois, do tempo
forasteiros e do espaço,
matéria dividindo
um mesmo lugar.
=Dom