Sexta Fera

Já foi a semana, Ana;
O que se fez do dia, Bia?

Não brinquei feito criança, dança;
Nem curti poesia, Lia.

Acabou-se a prosa, Rosa;
O que se fez do dia, Bia?

Não dancei quadrilha, família;
Nem roda cutia, Lia.

Hoje a sexta é fera, Vera;
Hoje não é dia, Lia.

Mas não tenha medo, Pedro;
Sem melancolia, Bia…

Semana que vem faremos tudo novamente…

=Dom

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Duma mente cansada em uma sexta ingrata…

Poema às avessas

Controverso, o escritor, contra o verso escrevia

– Poucos entendem o que dizes, gritavam…
– Poucos compreendem a arte, se ria…

E assim, contra o fluxo letárgico dos homens,
contra a barbárie da incoerência,
tecia no tear de Láquesis o destino que o consumia.

– Poucos querem tua arte, gritavam…
– Poucos podem ter arte, se ria…

Contra o verso, o escritor, controverso vivia
e no tear de Átropos seu destino escorria.

– Poucos lêem teus textos, gritavam…
– Nunca escrevi para todos, se ria…

=Dom

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Um estudo cômico dedicado aos contemporâneos
colegas de arte e sua imensa anti-platéia.

 

Abolitio Criminis

Não quero que me imputes
crime por ter esperança.
Pois se a tenho, a tenho pra mim.
E não peço que a compartilhes
ou que dela sobrevivas.
Mesmo porque, a esperança
é um alimento escasso
e só pode alimentar
um homem por cada vez.

Suplico, no entanto, que
não afastes de mim, teus olhos.
Pois neles me apego qual
desgraçado à sua certeza.
Nisso não há crime,
nem agouro ou maledicência.

Esperança, minha senhora,
não é crime. Crime é não possuí-la.
E desse mal, juro, não sofro!
Ademais, são teus olhos, em mim,
a própria “esperança dos desgraçados”
E se não os tivesse, seria eu, apenas
um desgraçado sem esperanças.

Não tivesse esperanças, senhora,
tanto pior seria pra ti.
Afinal, quem daí cantaria teus olhos com
tamanha paixão, respeito e temeridade…

=Dom